terça-feira, 8 de dezembro de 2009

OFICINA LIVRE / OFICINA 11- TP6 /UNIDADE 22 (26 de novembro de 2009)

Na primeira parte da oficina realizamos a correção de algumas atividades propostas e recapitulamos pontos básicos, trabalhados durante as unidades 21 e 22 dessa TP.
Como texto condutor, apreciamos a leitura de uma entrevista de Magda Soares ao Salto, em outubro de 2002, quando questionada sobre o compromisso de todas as áreas do conhecimento em relação a leitura e a escrita.
Partimos para a segunda parte da oficina onde os cursistas relataram suas experiências com o Avançando na Prática desta TP, enfocando desde o planejamento até o momento avaliativo.Durante este momento,alguns cursistas falaram sobre a dificuldade em por em prática o Avançando, uma vez que encontravam-se sobrecarregados com a cobrança de preparação das cadernetas e suas especificidades com relação a vida dos alunos.Mesmo assim , se comprometeram em realizar o trabalho ,apesar do calendário apertado, seguindo orientações sugestivas de alguns colegas que com tranquilidade estavam dando seguimento às atividades sugeridas pelo Programa.
Em seguida a turma foi dividida em grupos de até quatro membros com o desafio de realizar a leitura de um texto escrito por um aluno do Ensino Médio para o ENEM, num determinado ano, cujo o tema desenvolvido era: “O desafio de se conviver com a diferença”.
Após cumprida esta fase os grupos analisaram o texto cumprindo etapas relacionadas à revisão e em realizaram a reescrita.Com a reescrita concluída , foi realizada a leitura dos textos onde cada grupo expos para o grupo maior , os procedimentos e estratégias adotadas para a realização dessa ação.
O objetivo maior nesse momento era o de promover, posteriormente, atividades de leitura, planejamento, escrita e revisão que conduzam à comparação e diferenciação entre textos sobre o mesmo tema e/ou procedimentos que venham a ajudar os alunos a se tornarem escritores autônomos. Para isso , foi solicitado a elaboração de um planejamento por série, utilizando como condutor o texto: “ O padeiro “ de Rubem Braga, sem perder o foco de justificar as estratégias para execução da atividade planejada.
Os planejamentos foram apresentados com êxito e sugestões elencadas pelo grande grupo quando se fez necessário.Além da intervenção da formadora, através de questionamentos relativos a preparação para a escrita: motivação, pesquisa, apreciação de textos variados para a leitura, apresentação da temática, o enfoque social da mesma...
O envolvimento do grupo com a proposta apresentada foi bastante proveitoso e o tempo destinado para tal foi suficiente, alcançando o objetivo proposto.




O padeiro

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. Enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

- Não é ninguém, é o padeiro!

Interroguei-o uma vez: como tivera a idéia de gritar aquilo?

"Então você não é ninguém?"

Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não, senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém...

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como o pão saído do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"

E assobiava pelas escadas.

Rio, maio, 1956.
( Rubem Braga )






Após ter finalizado a Unidade 21 da TP6 : “Argumentação e Linguagem”, com suas respectivas abordagens e atividades, realizamos uma oficina livre, fazendo uso de uma dinâmica bastante conhecida: “Abrigo subterrâneo”.
O objetivo dessa atividade é utilizar argumentos bastantes convicentes que justifiquem as escolhas apresentadas, esclarecendo valores e conceitos morais,provocando um exercício de consenso.
Tudo tem início quando é apresentado ao grande grupo a seguinte situação: “Imaginem que uma cidade está sob ameaça de um bombardeio. Aproxima-se um homem e lhe solicita uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode acomodar seis pessoas”.
Em seguida as equipes são formadas com aproximadamente seis componentes e revelado aos grupos, agora já formados, a descrição das doze pessoas interessadas a entrar no abrigo : Um violinista, com 40 anos de idade, narcótico viciado; Um advogado, com 25 anos de idade; A mulher do advogado, com 24 anos de idade, que acaba de sair do manicômio. Ambos preferem ou ficar juntos no abrigo, ou fora dele; Um sacerdote, com a idade de 75 anos;Uma prostituta, com 34 anos de idade; Um ateu, com 20 anos de idade, autor de vários assassinatos; Uma universitária que fez voto de castidade; Um físico, com 28 anos de idade, que só aceita entrar no abrigo se puder levar consigo sua arma; Um físico, com 28 anos de idade, que só aceita entrar no abrigo se puder levar consigo sua arma; Uma menina com 12 anos de idade e baixo Q.I.; Um homossexual, com 47 anos de idade;Um débil mental, com 32 anos de idade, que sofre de ataques epilépticos.
Não existe outro abrigo, é o único disponível, ou seja, os outros 6 (seis) irão morrer. Os 6 (seis) que você escolher (devem ser seis, nem mais nem menos) é que continuarão a vida na cidade e serão responsáveis pelo seu progresso.
Após os 40 min. destinados à discursão e consenso entre os membros de cada equipe, é solicitado que seja destacado um representante por grupo para apresentação das devidas argumentações elaboradas enfatizando as escolhas (10 min. para cada equipe) . Dar-se a partir desse momento , início a um debate com a participação de todos (40 min.) provocando um exercício de consenso, estabelecendo a escolha dos seis que continuarão a vida na cidade e serão responsáveis pelo seu progresso .
A variedade de formas de convencimento utilizadas foram bastante expressivas, muitas vezes impedindo a contra-argumentação da equipe adversária, onde demos destaque também a concepção de linguagem adotada nos módulos trabalhados.
Ficou claro para todos que na escolha dos argumentos são revelados vários níveis de adequação e inadequação quanto à demonstração da tese pretendida: os sentidos globais do texto o objetivo da argumentação é que definem sua qualidade.

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